As incertezas para a indústria em 2021

Por Rafael Marques

Estudo, divulgado no último dia 9, sob o título “A indústria em 2020 e os desafios de 2021”, pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, o IEDI, aponta o frágil caminho que o setor vem trilhando no Brasil.

Pela Carta do IED, é possível perceber que o desempenho industrial no País ano passado, só não foi pior por conta, em parte do auxílio emergencial, responsável pela manutenção e consumo das famílias durante a pandemia do coronavírus, em parte pelo câmbio mais desvalorizado, que amenizou os problemas estruturais de competitividade da produção nacional e pelos níveis baixos de juros. A produção industrial no acumulado do ano de 2020 foi de -4,5%.

O levantamento do Instituto também mostrou que existiram atividades que conseguiram crescer em 2020. Porém, esse crescimento ficou concentrado à produção de setores de baixa tecnologia, como artefatos para pesca e esportes (+26,8%), fabricação e refino de açúcar (+24,4%), tanques, reservatórios metálicos e caldeiras (+13,8%), cimento (+12,1%), fumo (+10,1%) e produtos de limpeza e polimento (+10%).
Até mesmo atividades essenciais e menos prejudicadas pela crise da Covid-19, como a produção de alimentos, bebidas e medicamentos, também registraram queda de -5,9% em 2020.

Com base em dados do IBGE, o estudo afirma que para 93 segmentos industriais, 67% tiveram queda na produção, em 2019 eram 49%. Entre as piores perdas estão as das fabricantes de automóveis, com -33,2%.

Os setores industriais que mais perderam ao longo do ano passado, como bens de capital (-9,8%) e bens de consumo duráveis (-19,8%), são justamente os que mais agregam valor tecnológico em seus produtos. Enquanto que setores com baixa densidade tecnológica foram responsáveis, mesmo que por conta das exportações, por perdas menores.

Isso significa que o Brasil, cada vez mais, tem restringido sua participação no mercado mundial a produtos de baixa tecnologia. Uma imensa barreira para o futuro da indústria.

O estudo do IEDI conclui que “um dos piores efeitos econômicos da pandemia foi gerar um quadro de incerteza radical que até agora não foi plenamente superado”.

Rafael Marques é presidente do Instituto Trabalho, Indústria e Desenvolvimento, o TID-Brasil e ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC

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