Indústria deve contribuir no combate às mazelas sociais

Representantes do Macrossetor da Indústria da CUT, o MSI-CUT e do Instituto Trabalho, Indústria e Desenvolvimento, o TID-Brasil, se reuniram virtualmente, nesta quinta (11), com a assessoria técnica do Dieese e professores universitários convidados para dar início à atualização do Plano Indústria 10+ Desenvolvimento Produtivo e Tecnológico. 

Segundo o presidente do TID, Rafael Marques, o início da industrialização no Brasil foi impulsionado pelo Estado, o que tem sido bem diferente nos últimos anos. 

“De 80 até hoje, as propostas ficaram muito aquém das primeiras iniciativas que tratavam de construir novos setores, em grande medida com participação estatal, com siderúrgicas, mineração, Petrobras, entre outras”, destacou. 

Para ele, a pandemia do coronavírus, a geopolítica internacional e o governo Bolsonaro trouxe uma nova realidade social, que precisa estar refletida e aprofundada no Plano. 

“Precisamos construir uma proposta muito realista de política industrial, com o que de fato é possível, olhando a revolução tecnológica internacional, digital e de processos. Um Plano que desenvolva novos setores da indústria com forte ligação com os temas sociais brasileiros, como habitação, saneamento, infraestrutura de transporte de pessoas e de mercadorias, saúde e educação”, defendeu. 

Rafael afirmou que a sociedade deve se apropriar dessa política, com a compreensão da importância para melhorar a sua vida. 

“As pessoas têm que ver sentido nessas propostas e saberem que não é para beneficiar uma casta de empresários da indústria, mas um setor industrial que atenda às necessidades do nosso País, que ainda está em crescimento e precisa superar as mazelas em que a população ainda vive”, completou. 

O professor João Furtado, da Universidade Estadual de São Paulo, a USP, apontou a imensa fragilidade do Brasil e todas as desigualdades sociais, que se explicitaram com a crise sanitária mundial.

“A pandemia revelou um dos mais sérios problemas brasileiros que  é a habitação precária e a falta de saneamento básico, que agravou ainda mais os efeitos da Covid-19 sobre a população”, alertou.

Ele destacou oito ações para uma política industrial que dialogue com o desenvolvimento humano no Brasil: Habitação e Saneamento, Energia; Educação e Saúde; Complexo Industrial da Saúde; Coleta Seletiva e Reciclagem; Cidades Inteligentes; Mobilidade; Digitalização da Indústria e dos Sistemas Empresariais e Agricultura Familiar.  

Para o professor da Fundação Getúlio Vargas, FGV, e coordenador da subseção do Dieese no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Luis Paulo Bresciani, a indústria pode responder e dar solução para os problemas da sociedade brasileira. 

A assessora técnica do Dieese na CUT, Adriana Marcolino, chamou a atenção para a possibilidade de enfrentarmos ocorrências sanitárias de forma permanente e por isso garantir a moradia digna é fundamental. 

“O Brasil tem 5,1 milhões de moradias precárias ou aglomerações subnormais. Não é absurdo que o País resolva essa questão habitacional”, disse. 

O professor Jefferson da Conceição, doutor na Universidade de São Caetano do Sul, a USCS, ressaltou que os debates para a atualização do Plano não podem deixar de considerar a pandemia. 

“A reconversão industrial, que foi uma necessidade imposta pela crise sanitária, aconteceu em alguns setores, mas ainda não fomos capazes de dizer se de fato executamos um programa”, lembrou. 

O professor sugeriu economia de compartilhamento entre empresas, assento para indústria no Conselho Monetário Nacional, a desoneração do investimento produtivo, debate sobre o câmbio, compras governamentais exclusivas para empresas nacionais nas áreas de saúde, educação e saneamento; aproximação entre a universidade e indústria e uma Campanha de Valorização da Indústria. 

A ‘financeirização’ do setor produtivo; o debate com os agentes sociais, como sindicatos de trabalhadores, representantes dos empresários, consórcios de governadores e prefeitos e parlamentares; a transição energética e a sustentabilidade ambiental; os acordos comerciais e a complexidade dos setores e das cadeias produtivas da indústria também permearam o debate para a atualização do Plano Indústria 10+.  

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