“A pandemia escancarou dois neoliberalismos”

Foto: Roberto Parizotti

“Os Estados Unidos aportaram seis vezes mais o que destinaram para reconstruir os países no pós-guerra no socorro aos bancos na crise de 2008”, esclareceu a economista Gisele Yamauchi. 

A afirmação foi feita durante o debate, por meio de videoconferência, Covid-19 – Pandemia e Ampliação das Desigualdades Sociais, promovido pelo Instituto Trabalho, Indústria e Desenvolvimento, o TID-Brasil em parceria com o Instituto Sulamericano para a Cooperação e a Gestão Estratégica de Políticas Públicas, o AMSUR, na manhã deste sábado, 24.

Segundo ela, a crise sanitária tornou ainda mais perceptível “a mão bem visível do setor financeiro como usurpador do Estado. No Brasil, por exemplo, o sistema financeiros recebeu, de forma privilegiada, aportes financeiros superiores a R$ 1 trilhão enquanto a população, cerca de 89 milhões de pessoas, recebeu R$ 387 bilhões em auxílio emergencial”. 

“A pandemia escancarou dois neoliberalismos, com a retomada do Estado protetor e impulsionador da economia, bem distinto do Estado mínimo defendido pelos neoliberais, além de caracterizar o sistema com duas economias paralelas: a real e a monetária”, destacou Yamauchi. 

Crise humanitária

Para a ex-ministra de Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, a crise sanitária da Covid-19 agravou ainda mais a situação de violência e pobreza de grupos que já eram excluídos socialmente, como negros, mulheres, LGBTQIA+, indígenas, pessoas privadas de liberdade, entre outras. 

“‘Bicha preta já vive em isolamento’ foi o que me disse um aluno trans na Unilab (Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira), relatando suas experiências no enfrentamento da violência social”, contou a ex-ministra. 

Segunda Ribeiro, 73% das pessoas negras perderam a renda com a pandemia e, ainda, na segunda quinzena de março do ano passado, houve um aumento de 9% nas denúncias feitas pelo Disque 180, que recebe chamados sobre violência contra a mulher. 

Ela também relatou a dificuldade em se levantar informações e dados mais precisos sobre os efeitos na população com a Covid-19. 

“Os impactos vão muito além dos problemas de saúde. O que vivemos hoje é uma crise humanitária, para além da crise sanitária”, observou. 

Dia do Trabalhador e da Trabalhadora

A secretária-geral do TID-Brasil, Cida Trajano, apontou que a pandemia vem aumentando as desigualdades sociais e desafiando os trabalhadores e trabalhadoras no trabalho remoto, simultaneamente às tarefas domésticas e escolares assumidas pelos pais e mães. 

“Diante de tudo que está acontecendo, principalmente com o aumento visível das condições de pobreza e fome, estamos realizando campanhas de solidariedade para minimizar esses efeitos perversos. Por isso, o tema do 1º de maio deste ano é Vacina no Braço e Comida no Prato”, enfatizou a dirigente da Central Única dos Trabalhadores, a CUT. 

Homenagem

Antonio Granado, do Instituto Amsur, na abertura da atividade, prestou homenagens aos companheiros Alípio Freire e Lays Machado, que faleceram ambos na última quinta vítimas da Covid-19. 

Confira a íntegra do debate:

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