Valor: Anfavea avalia que petista tem visão pró-indústria

Foto: Adonis Guerra/SMABC

Fabio Graner e Fábio Pupo/Valor Econômico

As empresas do setor automotivo avaliam que há falta de clareza nas propostas de ambos os candidatos à Presidência da República para o setor e a economia nos próximos anos, mas expressa uma incerteza maior em relação a um eventual governo de Jair Bolsonaro (PSL), com seu programa econômico de corte mais liberal e a possibilidade de extinção do Ministério da Indústria e Comércio (Mdic), o principal interlocutor do setor no governo. O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Antonio Megale, afirmou ontem em almoço com um grupo de jornalistas que o economista Paulo Guedes, já indicado por Bolsonaro como seu futuro comandante da economia em caso de vitória nessa eleição, teve muito mais contato na campanha com o mercado financeiro do que com o setor produtivo.

Ele diz haver dúvidas em relação a itens como a extensão e a forma como será aplicada a agenda liberal do economista. As principais preocupações são como se daria um processo de abertura comercial do país e como ficaria a interlocução do empresariado com o governo se Mdic for mesmo incorporado a um superministério da Economia – proposta de campanha do capitão da reserva. “O [programa] do Bolsonaro tem um lado liberal pelo sentido da abertura e tem que ter um entendimento sobre qual a gradação dessa abertura.

Esse tipo de preocupação que temos que discutir”, disse. Megale reconhece que o país e até mesmo a indústria automotiva precisam de uma abertura comercial, com menos tarifas de importação. Mas defende que isso seja feito de forma gradual e a partir de acordos com blocos econômicos ou bilaterais. “O país precisa ser mais aberto, mas não unilateralmente e nem tão rápido porque, nesse caso, perderíamos as fábricas que temos aqui”, disse. O executivo afirmou que o candidato mais alinhado à entidade e à indústria seria Ciro Gomes (PDT).

Dos que concorrem no segundo turno, já teve conversas com ambos os candidatos, sendo que as discussões com Bolsonaro foram tratadas com superficialidade porque ele “não teve condição de entender com profundidade” as questões. A própria coesão entre Guedes [de visão liberal] e Bolsonaro [de viés nacionalista] ainda gera dúvidas. “É uma incógnita. Esperamos que nos debates de segundo turno tenhamos mais tempo de entender”, disse.

Na visão dele, o discurso liberalizante de enxugamento do Estado deve encontrar resistência. “Uma coisa é fazer um plano fora do governo. Outra é administrar o dia a dia, que é muito diferente. Tem um agenda importante de redução do tamanho do governo, mas como fica uma redução de postos de trabalho no Distrito Federal? Não vai ser bem aceito. Privatizar também não vai ser tão simples assim”, disse.

Megale diz que o primeiro desafio a ser encarado por um futuro presidente é o problema fiscal. E acrescenta que ambos estão preocupados com a criação de postos de trabalho. “Uma das coisas que estão convergentes é que os dois programas estão muito preocupados com geração de empregos no país”, afirmou. De Fernando Haddad (PT), é esperada uma administração com tendência mais desenvolvimentista, dado o histórico dos governos do partido – o que é visto como pró-indústria pela entidade.

De fato, o setor foi um dos maiores beneficiados por incentivos governamentais nas gestões da sigla. “Nós não temos certeza da visão de cada um para a indústria como um todo. O lado do PT já tem mais conhecimento pela história do partido, ligada ao setor automotivo”, disse. O presidente da Anfavea disse aprovar o nome do empresário Josué Gomes da Silva (filho do ex-vice-presidente José Alencar) para o cargo de ministro da Fazenda em um governo Haddad, possibilidade que vem sendo ventilada nos bastidores. “Vejo com bons olhos. É uma pessoa íntegra e honesta. Me parece um bom nome e uma pessoa que conhece os problemas e as dificuldades do Brasil”, disse.

 

 

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