Quantas vidas até a morte da impunidade?

Por Rafael Marques

A morte de dez jovens atletas do Flamengo na semana passada, o crime da Vale em Brumadinho, Samarco/Mariana, Boate Kiss, o que estes episódios tristes têm em comum? A certeza da impunidade.

Me solidarizo com a dor dos familiares, dos amigos, daqueles que são cidadãos de verdade, impotentes diante da irresponsabilidade dos que creem na impunidade e me indigno com aqueles que tripudiam da dor, com comentários que comprovam que muitos já perderam a humanidade.

Imagino como foi a reunião dos dirigentes do clube e dos diretores da Vale com seus advogados. Será que discutiram como amenizar o sofrimento dos familiares e amigos das vítimas ou debateram a preservação do patrimônio do Flamengo ou da Vale? Estavam mais preocupados com o que iriam dizer para a imprensa, para não se incriminarem?

Depois destas ocorrências, falam-se em mais rigor na fiscalização, em medidas rigorosas, em contratar mais fiscais. A sensação que temos é que a justiça não pune quem tem dinheiro e quem tem poder. O que aconteceu com a Samarco/Vale? Com os donos da Boate Kiss? Nada.

A mudança só vai acontecer quando os responsáveis pagarem com penas duríssimas sobre seus atos e forem punidos exemplarmente por terem colocado a vida de outras pessoas em risco e negligenciado a segurança.

O sofrimento de uma cidade inteira, que perdeu uma geração em uma noite; a depressão de quem viu seus companheiros de trabalho soterrados na lama; a dor das mães que entregaram seus filhos pelos sonhos deles de serem jogadores de futebol, para pessoas que deveriam zelar por eles, como isso pode ficar impune?

Afinal, a lei protege o indivíduo que pode pagar por bons advogados, mas não defende uma comunidade inteira, seja ela constituída por dez, 19, 242 ou 400 pessoas?

 

Rafael Marques é presidente do Instituto Trabalho, Indústria e Desenvolvimento – TID-Brasil e ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC

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