Indústria 4.0: As coisas irão acontecer na fábrica

Os dirigentes do Macrossetor da Indústria da CUT e do Instituto Trabalho, Indústria e Desenvolvimento, o TID-Brasil, participaram nesta terça, 30, do ciclo de debates – Indústria 4.0 no Brasil: limites, possibilidades e impactos no emprego, trabalho e renda, com o professor na Universidade de São Caetano do Sul, USCS e na Fundação Getúlio Vargas, FGV, Luis Paulo Bresciani.
O professor, que também coordena a Subseção do Dieese no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, provocou os participantes a dizerem o que de fato gostariam de saber sobre o tema e relembrou o mapeamento feito nos anos 90 sobre a reestruturação produtiva nas fábricas.

A conectividade 5G, a nanotecnologia, o estágio do Brasil nesse processo de indústria 4.0, a divisão internacional do trabalho e a industrialização subordinada, a fabricação de roupas sem costuras e sem trabalhadores, a utilização de novos materiais como madeira suspensa em locais úmidos, o esvaziamento do Estado e sua ausência em setores estratégicos, se haverá emprego ou não nessa nova indústria, entre outros temas foram abordados como de interesse.

Pesquisas
“Destacamos quatro grupos de impacto acadêmico: comparativo China/Alemanha; trajetórias e desafios de implementação, características e benefícios da internet industrial das coisas e tecnologias digitais e prontidão empresarial para a transição 4.0, realocação de atividades com adoção de sistemas industriais 4.0 (Itália, França, Alemanha, etc)”, explicou.

Paradoxo
Para ele, ainda há uma grande contradição na implementação desses processos no País.
“A ‘uberização’ apresenta uma questão contraditória se imaginarmos um entregador em uma bicicleta, com um celular com toda a tecnologia e aplicativos inteligentes, pedalando 14 horas por dia e carregando um baú nada confortável”, avaliou.

Encruzilhada
Bresciani salientou que os debates que estão sendo feitos hoje sobre o tema são muito distintos dos que seriam feitos há dez anos, impactados pela desindustrialização.
“A indústria brasileira caiu da 9ª para a 16ª economia mundial e a contribuição do Brasil na produção industrial global passou de 2,7% para 1,2%, ou seja, desde 2015 estamos ladeira abaixo”, constatou.
“Além disso, estamos em uma encruzilhada entre a retomada ou a irrelevância, com a nossa indústria equivalente a de países pequenos e não somos um país pequeno, mas corremos esse risco e a tendência é essa”, lamentou.

Desmonte
Ele ainda apontou o desmantelamento, pelo governo Temer e pelo atual, das políticas para o desenvolvimento da indústria, com o enfraquecimento da participação do BNDES sobre esse tema e a precarização das estruturas de pesquisa das universidades e institutos federais, o que tem mantido a taxa de inovação estagnada em 30%.

Emprego
Além desses desafios que o Brasil tem para enfrentar esse debate de implementação da indústria 4.0, os impactos sobre os empregos nessa nova indústria foi outro ponto importante destacado pelo professor.
“Temos a equação: Mais tecnologia embarcada, menos gente trabalhando, como foi no passado com automação”, declarou.
Bresciani contou que um estudo da consultoria McKinsey projeta a perda de 800 milhões de empregos no mundo até 2030, com a implementação desses novos processos fabris digitais.
“Podem ser milhões se não tivermos política de emprego e desenvolvimento ou zero se tiver política de desenvolvimento e pleno emprego e para isso temos muita demanda social para atender”, refletiu.

CNI
Bresciani analisou como os empresários brasileiros estão inseridos nesse debate, segundo pesquisa da Confederação Nacional da Indústria, a CNI, 58% desconheciam o tema, em 2016, com apenas 34% deles declarando que o tema da indústria 4.0 é relevante.
“O principal objetivo destacado pelos empresários é a redução de custos e o aumento da produtividade, mas o alto custo de implantação foi apontado como uma barreira”, disse.

Chão de fábrica
Um fator importante para esse debate, segundo Bresciani, é a ampliação e apropriação, pelos dirigentes sindicais, dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, as ODS 8 e 9, que tratam sobre o trabalho decente e crescimento econômico e a indústria, inovação e infraestrutura.

“Seja em qual estágio estejamos nesse debate sobre a indústria 4.0, precisaremos retornar ao que fizemos quando da automação dos processos produtivos e voltarmos para dentro da fábrica. É lá onde as coisas irão acontecer”, concluiu o professor Bresciani.

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