Das injustiças que não cessam

Por Rafael Marques

O reajuste nos salários dos ministros do Supremo Tribunal Federal, o STF, que passam de R$ 33,7 mil para R$ 39,3 mil, sancionado na última segunda-feira, dia 26, por Temer, tem despertado críticas de diversos setores.

No Brasil, o relatório Justiça em Números informa que, em 2016, o Judiciário consumiu o equivalente a 1,4% do PIB do País – ou R$ 84,8 bilhões, em valores da época.

Desses R$ 84 bilhões, quase tudo (89%) foi de gastos com pessoal, inclusive pensões e aposentadorias. Em termos de custo por pessoa, os magistrados mais caros são os da Justiça Federal, com um custo de R$ 50,8 mil por mês.

Esse valor foi aferido há dois anos, o que representa na sociedade um verdadeiro abismo social entre os que deveriam promover a justiça e os ‘injustiçados’ cidadãos comuns: os trabalhadores e trabalhadoras.

Ainda mais nesse período em que vivemos uma crise, com milhares de trabalhadores sem saber ao certo se receberão os salários no dia que consta em seu contrato de trabalho, ou mesmo o 13º salário.

Enquanto os magistrados recebem além do 13º, duas férias por ano e auxílio-moradia, mesmo tendo casa própria na mesma cidade em que atua, além de outros chamados ‘penduricalhos’. Somando os ganhos anuais algo em torno de R$ 590 mil cada um, mais de meio milhão de reais por ano.

É difícil convencer os milhões de trabalhadores e trabalhadoras na iniciativa privada e mesmo no serviço público mal remunerado – porque também existe, como os professores estaduais por exemplo – que a reforma da Previdência é algo inevitável e que para que a Previdência não quebre é preciso abrir mão do direito à aposentadoria.

Como recuperar a credibilidade institucional do País com aberrações como essas? Que cidadão ou cidadã brasileiro pode confiar nos políticos que promovem ações como essas de aumento salarial abusivo e criam verdadeiras elites institucionalizadas, enquanto milhões estão desempregados e jogados na marginalidade?

Rafael Marques é presidente do Instituto Trabalho, Indústria e Desenvolvimento, o TID-Brasil e ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC

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