Ameaça aos trabalhadores e retirada de direitos levou à maior sindicalização da história dos EUA

A afirmação é do presidente da Federação Americana do Trabalho e Congresso de Organizações Industriais, a AFL-CIO, Richard Louis Trumka, em encontro com o Macrossetor da Indústria da CUT e o TID-Brasil, na sede da CUT, em São Paulo

Por Rossana Lana/TID-Brasil

Na manhã desta sexta, 11, o presidente da AFL-CIO, Richards Louis Trumka, esteve reunido com o presidente da CUT, Sérgio Nobre, com representantes do Macrossetor da Indústria da CUT, do TID-Brasil e da Fundação Perseu Abramo.

Segundo Trumka, os Estados Unidos também vêm sofrendo um processo de desindustrialização e perda de postos de trabalho, além da privatização de empresas – como os correios estadunidenses – e a precarização do trabalho.

“Os gestores dessas empresas estatais contrataram planos de saúde caríssimos para depois dizer que elas eram ineficientes”, contou.

Para ele, a falta de parlamentares comprometidos com os trabalhadores tem permitido a retirada de direitos e a perseguição de trabalhadores.

“O que tivemos, em governos Democratas no passado, foi uma campanha de promessas e um mandato de desculpas. Precisamos ter parlamentares que tenham ações efetivas para os interesses dos trabalhadores”, defendeu o presidente da Federação Americana.

“Mas os trabalhadores não são tão bobos como o governo de Donald Trump acredita e estão se sindicalizando em massa, como nunca fizeram antes”, completou.

O presidente da AFL-CIO ouviu atentamente os representantes do MSI-CUT e apontou as semelhanças entre os desafios da Federação e da Central.

Para o presidente da CUT, Sérgio Nobre, a solidariedade entre as entidades de representação sindical é fundamental para impedir o enfraquecimento das organizações dos trabalhadores e reverter o quadro de retirada de direitos.

“Temos acompanhado os ataques às instituições de defesa dos trabalhadores e trabalhadoras do Brasil, mas isso não é um fato isolado. Ao contrário, tem se repetido em muitos países”, destacou.

A coordenadora do MSI-CUT e presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Ramo do Vestuário, CNTRV, Cida Trajano, contou ao presidente da Federação Americana como a unidade entre as Confederações, que compõem o Macrossetor tem contribuído para ampliar o debate.

“Os representantes de trabalhadores e trabalhadoras nos ramos do vestuário, metalúrgico, químicos, da construção e madeira, da alimentação e dos energéticos, têm conseguido produzir propostas conjuntas para a indústria brasileira, como é o Plano Indústria 10+”, explicou a dirigente.

O presidente do TID-Brasil, Rafael Marques, ressaltou o processo de desindustrialização acelerado que o Brasil vem sofrendo e o que isso impacta na renda dos trabalhadores.

“Alguns fatores para que isso esteja acontecendo estão ligados à macroeconomia doméstica, com taxa de juros e custo do capital elevado, além da China, que aumenta a cada ano a sua presença na economia brasileira, com aquisição de empresas ou instalação de novos parques fabris”, relatou.

“O Brasil era a sexta economia industrial do mundo e esse ano devemos fechar na 11ª posição e com isso os indicadores sociais que são elevados pelo emprego da indústria vão se deteriorando”, criticou o presidente do TID-Brasil.

A perda de postos de trabalho por conta da operação Lava Jato, que praticamente faliu as principais empreiteiras do Brasil foi apontado pelo presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Construção Civil e Madeira, Claudio Gomes, como um dos agravantes da situação da indústria.

“Só nas obras da Odebrecht e de suas empreiteiras foram demitidos mais de 100 mil trabalhadores, além da aquisição da Camargo e Corrêa por um consórcio Chinês. Um desastre para nós”, lamentou.

Outra operação da Polícia Federal que afetou os trabalhadores da indústria, desta vez, da alimentação, foi a Operação Carne é Fraca, que atingiu a maior processadora de carnes, a JBS, segundo relatou do diretor da Confederação Brasileira Democrática dos Trabalhadores na Indústria de Alimentação, a Contac, Nelson Morelli.

“Ainda não foi bem explicado, mas essa operação contribuiu com interesses de empresas estrangeiras, que competiam com a JBS”, denunciou o dirigente.

“Outro fator importante deste ramo é o uso e o abuso de agrotóxicos que tem sido permitido pelo governo Bolsonaro, que também fragiliza a indústria brasileira no mundo”, continuou.

O diretor do Sinergia, Marcelo Fiori, apontou a preocupação com as privatizações das empresas estratégicas para o desenvolvimento do País.

“A venda da Eletrobras, que é uma holding que tem a Eletronorte, Furnas, Chesf, Eletrosul, Eletronuclear, a Itaipu Binacional, que está sofrendo uma desregulamentação para encaminhar para um processo amplo de privatização, o que é um risco enorme por conta de servir como um moderador do modelo tarifário”, explicou Fiori ao presidente da AFL-CIO.

O presidente da Confederação Nacional do Metalúrgicos da CUT, a CNM-CUT, Paulo Cayres, relatou a perda de postos de trabalho com o fechamento de plantas, como a Ford em São Bernardo do Campo, e o desmantelamento da indústria naval brasileira.

“O setor naval estava completamente sucateado e o ex-presidente Lula e a presidenta Dilma Rousseff transformaram essa realidade. Tinha-se 2 mil postos de trabalho em 2003 e chegou a 90 mil empregos nos dois governos”, lembrou.

“Todos os setores estratégicos da indústria brasileira estão sofrendo um ataque, como a Embraer, a Petrobras, que desenvolvem alta tecnologia e, portanto, têm em seus quadros trabalhadores e trabalhadoras altamente especializados. É um ataque a nossa soberania”, completou.

A coordenadora do MSI-CUT, Cida Trajano também relatou o trabalho análogo à escravidão existente no ramo do vestuário, que tem se agravado com os refugiados.

“Os imigrantes têm sofrido em oficinas de costura em embarcações que exploram as pessoas até a morte e as lançam ao mar. Uma violação gravíssima, que temos que combater”, denunciou.

O presidente Trumka se solidarizou com as dificuldades enfrentadas no Brasil e afirmou que muitas empresas nos Estados Unidos também se utilizam de métodos como a deportação de imigrantes para impor o trabalho forçado.

“Essas situações têm que ser enfrentadas por nós em conjunto e por isso temos que selar a nossa solidariedade para sempre. Solidarity Forever!”, enfatizou.

Também estiveram na reunião o coordenador de Legislação e Política da AFL-CIO, Brian Finnegan; a diretora de Programas Brasil e Paraguai do Centro de Solidariedade da AFL-CIO, Jana Silverman; o diretor do Sinergia, Esteliano Neto; o diretor da Fundação Perseu Abramo, Artur Henrique da Silva Santos; o diretor da UAW (United Auto Workers), o sindicato dos trabalhadores da indústria automotiva dos Estados Unidos, Rafael Guerra; e a representante da USW (United Steelworkers), Carolyn Kazdin.

 

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