Encontro Regional RS: “A recuperação brasileira é obra do Brasil”

Os efeitos da pandemia do novo coronavírus e seus impactos na sociedade, na economia e, especialmente, na indústria, com os desafios aos trabalhadores e trabalhadoras do setor, foi o tema do Encontro Regional do Macrossetor da Indústria da CUT, etapa do Rio Grande do Sul, realizado por videoconferência na quinta-feira, dia 28. 

O Encontro, que contou com a participação de mais de 50 dirigentes do ramo metalúrgico, químico, do vestuário, da alimentação, da construção e madeira e dos energéticos, é o primeiro de uma série que acontecerá durante todo o mês de junho até o Seminário Nacional, previsto para o dia 9 de julho. (Confira a agenda dos encontros abaixo*). 

Na abertura da etapa do Rio Grande do Sul, a coordenadora do MSI da CUT, Cida Trajano, destacou a importância de conhecer as realidades das regiões para a elaboração de um documento nacional, que contemple todas essas especificidades locais. 

“Essa troca de experiências que estamos fazendo e tendo a oportunidade de ouvir os representantes dos trabalhadores e trabalhadoras na indústria, com suas características e aflições próprias de cada região nos dará capacidade para elaborar propostas e apontar caminhos para a saída dessa crise agravada pelo coronavírus”, afirmou a coordenadora do MSI e presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras no Ramo do Vestuário, a CNTRV-CUT.  

Durante o Encontro, o supervisor do Escritório Regional do Dieese o RS, Ricardo Franzoi, apresentou dados sobre os impactos na indústria e nos empregos, ao longo dos anos, com a desindustrialização do Brasil. 

O estudo revela que a participação da indústria no PIB (Produto Interno Bruto), que chegou a ser de mais de 35% em 1985, hoje representa pouco mais de 10% das riquezas que o país produz.

A perda constante da importância industrial, quando separado por ramo, tem o maior impacto sobre a indústria calçadista, que há poucos mais de três décadas representava 63,3% do valor da atividade industrial e, em 2018, recuou para 13%. Uma queda significativa de 33,1%.

A indústria de Alimentos e Bebi
das, mesmo tendo queda no percentual de participação de 35,5% em 1985 para 23,4% em 2018, se manteve ao longo do tempo, tendo dobrado o valor da atividade desse ramo.

Outro fator trazido pelo estudo do Dieese é a quantidade de empregos por unidade da Federação acumulado de abril a maio de 2020, podendo verificar-se que o setor industrial no Brasil é responsável por 25% dos empregos no País, com 1,8 milhão de postos de trabalho (acumulados nesse período).   

 

O presidente do Instituto, Trabalho, Indústria e Desenvolvimento, o TID-Brasil, Rafael Marques, analisou os efeitos devastadores da Covid-19 sobre a economia global e seus desdobramentos sobre a indústria no Brasil. 

“Essa doença tem um contágio rápido, a letalidade aparentemente não é tão grande se comparada a outros vírus, mas como há uma facilidade de contaminação isso pode refletir no número de mortes, tanto é que o mundo inteiro está sendo atingido e fez com que todos os países ao mesmo tempo vivessem uma crise de saúde, que comprometeu as suas economias”, destacou. 

Para ele, isso faz com que todos os países debatam as saídas no pós-pandemia com o mesmo enfoque e os mesmo efeitos sobre o emprego e a indústria. 

“É muito raro uma crise de saúde e econômica que atravessa todo o mundo ao mesmo tempo. Por isso, é preciso observar o que cada país irá fazer”, alertou. 

“Tínhamos uma vantagem de tempo, já que a contaminação aconteceu de forma acelerada na Ásia, Europa e América do Norte e vinha se alastrando, mas esse tempo, que teríamos para observar as ações desses países e que poderia ter nos colocado na dianteira, foi jogado fora. Não conseguimos fazer isso, em função da absoluta desqualificação do poder público brasileiro, especialmente a do governo federal e de alguns estados”, criticou.  

Segundo Rafael, o mundo assiste atônito os erros que o governo e a elite brasileira promovem no combate a pandemia, enquanto mais de mil pessoas estão morrendo por dia, com a Covid-19. 

“Em um período de pandemia está acontecendo uma luta para controlar a Polícia Federal, com operações como a que vimos no Rio de Janeiro, com o governador Witzel e no dia seguinte como se fosse uma resposta a operação anterior. Isso é uma falta de foco, já que a prioridade deveria ser cuidar da saúde do povo e da economia”, denunciou.   

O presidente do TID-Brasil afirmou que, apesar dessa situação caótica na política, há janelas de oportunidades para o momento pós-pandemia.  

“A soberania produtiva é uma discussão que os países irão fazer e pode nos colocar diante de voltar ao debate da nacionalização da produção, de preencher os elos das cadeias produtivas dos mais variados segmentos industriais, que nós perdemos ao longo do tempo, de várias áreas que se deslocaram pra China, para o leste asiático, para outros países”, avaliou. 

“A pandemia deixou todo o mundo muito exposto e dependente da produção chinesa, não só na saúde como foco principal nesse momento, mas é possível traçar, como o Plano Indústria, com pontos que se atualizaram neste momento, inclusive sobre a opinião pública, que sempre foi uma dificuldade nos debates sobre a reindustrialização”, completou.

Para ele, o movimento sindical e o Macrossetor da Indústria da CUT precisam trabalhar para que essa disputa política acirrada, que o Bolsonaro implantou no Brasil e que tirou as vantagens que haviam para combater a pandemia, não atrapalhem esse debate.  

“Não podemos abrir mão de discutir com as nossas bases, nas nossas cidades e estados, para não perder, pela confusão política, o debate da internalização da produção em vários setores”, disse. 

“Como não teremos como fazer o debate nacional, teremos que fazer no espaço local, com prefeitos, governadores, que estão buscando com a Organização Mundial da Saúde, o Conselho Regional de Medicina, com setores contrariados com a atitude do governo federal. Isso abre uma mesa de discussão para fazermos, por que há uma sintonia com esse grupo de prefeitos e governadores, que atuaram de maneira correta, para conversarmos como será a saída e o modelo de desenvolvimento”, defendeu. 

“A região Sul, apesar do crescimento de 86% no número de contágios do coronavírus, que ainda não sabemos se é uma tendência, tem capacidade de tomar pra si uma discussão de natureza pós-pandemia vantajosa e os números do Dieese mostraram isso”, salientou Rafael. 

Segundo ele, os dirigentes do MSI da CUT no Rio Grande do Sul podem encaminhar algumas propostas, como as que estão no Plano Indústria 10+.

“A reconversão industrial, a nacionalização de produção, conteúdo local em cadeias importantes, que podem ser colocadas na área da saúde, energia e tecnologia, como o início de um diálogo com empresários e governos”, exemplificou. 

“Se conseguirmos convergir, sem dispersar, focar e estabelecer algumas metas e implementar do ponto de vista da região, podemos levar ao parlamento, ao Senado. Existem capacidades surgindo com essa crise”, completou. 

O presidente salientou o papel do movimento sindical como articulador de políticas para que o Brasil volte a gerar emprego e combata os efeitos da pandemia.

“O trabalho das centrais sindicais é muito positivo, por meio de uma unidade histórica, propondo juntas e fazendo intervenções conjuntas, para que as pessoas não percam a confiança. A recuperação brasileira é obra do Brasil”, concluiu. 

O Encontro Regional do Macrossetor da Indústria da CUT, no Rio Grande do Sul ainda debateu sobre o futuro da organização do trabalho e os desafios para a representação sindical. 

*Confira a agenda dos próximos Encontros:

LOCAL DATA
Bahia  04/06
Pernambuco  05/06
São Paulo e Minas Gerais 11/06
Santa Catarina e Paraná  12/06
Rio de Janeiro e Espírito Santo  18/06
Nordeste  19/06
Norte  25/06
Seminário Nacional  09/07
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