Desenvolvimento brasileiro, indústria e ambiente institucional

O professor de economia da Unicamp e da UFABC, Marcio Pochmann, inaugurou o ciclo de debates sobre a indústria, promovido pelo Macrossetor da Indústria da CUT e TID-Brasil, em parceria com o Solidarity Center, no dia 17 de setembro. 

Por meio de videoconferência, Pochmann falou para mais de cem participantes de todo o Brasil e traçou uma linha do tempo da geopolítica e suas implicações na economia mundial e no financiamento tecnológico para o desenvolvimento do País. 

Com o tema Desenvolvimento brasileiro, indústria e ambiente institucional, ele destacou o esforço que está sendo realizado pelo MSI e TID, com o ciclo de debates, para a atualização do Plano Indústria 10+ Desenvolvimento Produtivo e Tecnológico, buscando a reflexão da produção manufatureira como novo paradigma de desenvolvimento.

Leia a íntegra da exposição do professor Marcio Pochmann: 

Desenvolvimento brasileiro, indústria e ambiente institucional 

Por Marcio Pochmann

Esse momento de reflexão coletiva indica o esforço, que está sendo realizado pelo Macrossetor da Indústria da CUT e do Instituto Trabalho, Indústria e Desenvolvimento, o TID-Brasil, com a parceria do Solidarity Center, para pensar e implementar um novo paradigma em relação ao desenvolvimento brasileiro, com o objetivo de atualizar o Plano Indústria 10+ Desenvolvimento Produtivo e Tecnológico, no que diz respeito à sua coluna vertebral que é a produção manufatureira.

Partindo da hipótese que há uma espécie de envelhecimento, um anacronismo das formas pretéritas do desenvolvimento que foi perseguido pelo Brasil no século passado e que de certa maneira, evidenciou muito mais um estímulo à expansão das forças produtivas do que, necessariamente, a sua melhor convivência com o meio ambiente e sobretudo com os resultados dessas forças produtivas e seus excedentes com a questão mais importante que é a qualidade de vida e o enfrentamento da desigualdade. 

Teremos bons frutos a serem colhidos dessa aproximação com o Macrossetor da Indústria da CUT e TID-Brasil, em termos de convergência propositiva e de diagnóstico relacionado a questão da indústria brasileira, já que temos uma identidade da percepção sobre a importância da indústria.

Apresento alguns elementos que possam ajudar na reflexão à cerca das possibilidades do Brasil retomar o papel que a indústria teve no passado e que, hoje, segundo levantamento do IEDI, dos últimos 50 anos, o País foi o que mais contraiu o seu setor industrial, perdendo apenas para o Reino Unido e a Austrália. 

Essa comparação talvez não seja tão adequada, por que os dois países iniciaram sua desindustrialização quando já haviam atingido um elevado patamar de sua renda per capita e universalizado o acesso aos bens industriais e os adicionais da renda passaram a se deslocar para os serviços, como entretenimento, saúde, educação, lazer, etc.

O que não foi o caso do Brasil, ao contrário, no máximo conseguiu atingir um nível de renda per capita intermediário diante de uma desigualdade muito grande na repartição da riqueza, da renda e do poder no País e ainda há uma parcela gigantesca dos brasileiros que não têm acesso ao consumo, mesmo com a modernização desse padrão de consumo, desde que o País ingressou na globalização. 

O esvaziamento industrial, talvez, condenará parte importante dos brasileiros a não ter acesso a bens industriais, já que parte importante da oferta desses bens provem de fora do País e qualquer elevação de renda da população, dado esse tipo de estrutura produtiva fará com que a necessidade de adquirir esses bens industriais levará a um vazamento de renda para o exterior. Distribui-se a renda aos mais pobres, que vão aos mercados comprar, mas sem oferta interna, estimula-se a importação   gera empregos e produção em outros países.

Essa é a questão fundamental de reconhecer que o Brasil tem defendido a redistribuição de renda, que é absolutamente necessária, porém, a redistribuição da renda desacompanhada de uma política de oferta e internalização da produção será como a expectativa de (Pierre-Joseph) Proudhon, anarquista que defendia a distribuição sem produção. 

A defesa da redistribuição da renda deve vir acompanhada, necessariamente, de políticas de estímulo à oferta interna, à produção nacional. 

Desenvolvimento no capitalismo

A questão do desenvolvimento no capitalismo se torna difícil de se imaginá-lo somente com as próprias pernas, por que o capitalismo é um sistema integrado, articulado, que tem hierarquias e, portanto, o grau de liberdade para se tomar decisões estritamente nacionais é possível, mas é obstaculizado por interconexões relacionadas a experiências de países que conseguiram avançar em seu desenvolvimento, apesar das restrições. 

Em um segundo plano, tratar as condições que tornaram possíveis os avanços e o enfrentamento dos problemas do atraso que são marcantes em nosso País.

Esses elementos são necessários para se pensar em um novo paradigma e quais são os eixos do que poderia vir a ser um novo paradigma, que o viabilizaria na prática. 

Resgate histórico – 1ª fase

Na primeira fase, até o século XVIII, o que havia de mais avançado e moderno no mundo estava no Oriente, fazia parte da Eurásia, especialmente vinculado ao Império do Meio, que era a China e o Império Hindu, a Índia. As duas regiões que representavam cerca de 35% da população que havia no mundo. Em 1800, nós tínhamos menos de em bilhão de habitantes. 

Os dois impérios respondiam por 75% da riqueza estimada e precificada por historiadores econômicos e que, a partir do século IX, começa um deslocamento do centro dinâmico do Oriente para o Ocidente, por conta das dificuldades de se levar produtos para a Europa, que era muito atrasada naquele período. 

A queda de Constantinopla, em 1543, vai impedir que o comércio se realize pelo Mediterrâneo, com a ascensão do Islamismo e isso gera uma competição para se chegar às Índias não mais pelo Oriente, mas pelo Ocidente por meio das grandes navegações, que tinham basicamente que contornar o continente africano. 

Esse trajeto, feito primeiramente pelos portugueses e espanhóis, vai levar ao ‘descobrimento’ de um novo continente que é o americano e é aí que nós aparecemos diante do deslocamento do centro dinâmico do Oriente para ao Ocidente. 

A partir de 1750, com a primeira revolução industrial, um conjunto de ilhas que é a Inglaterra, com a  introdução do tear mecânico, que agiliza e gera excedente de produção indumentária, superando o Império Hindu, o maior produtor têxtil do mundo até então.  

A Inglaterra, que tinha 20 milhões de habitantes, com esse salto tecnológico, constitui uma produção em grande escala que vai validar e hegemonizar o modo de produção capitalista, combinado com uma moeda para viabilizar o seu curso internacional e sair do escambo. Inicia-se o padrão monetário libra-ouro e o mais importante de tudo isso é a força armada. 

Por que o capitalismo se caracteriza pela guerra e foi isso que permitiu dominar e destruir o Império Hindu e ao mesmo tempo dominar e desmontar o Império do Meio, através da Guerra do Ópio, na primeira metade do século IX.      

O desmonte do Império Hindu que foi a dominação, através da Companhia da Índias, que foi objeto de guerra e repressão aos hindus pelos britânicos, o mesmo se deu em relação à China.

O capitalismo industrial ganha dimensão e sua produção crescente vai buscar novos mercados e constitui-se o sistema capitalista, a partir de um centro dinâmico que se torna hegemônico por uma moeda de curso internacional, por sua força de guerra ou armada e pela mudança tecnológica que é o amalgama da inovação e da competição. 

Colônias periféricas

A partir deste momento passa a se ter no mundo um centro dinâmico e seus países colônias como satélites ou periferias, que giram em torno desse centro. 

O Brasil alcança a sua independência em 1822 e em 1889 abandona o modo de produção mercantil assentado no trabalho escravo e inaugura o seu ingresso no capitalismo, em uma condição de periferia da Inglaterra, por que o País não tem uma moeda de curso internacional, não tem forças armadas digna de nome e muito menos inovação tecnológica. 

Entramos como um país para continuar produzindo produtos primários, não para alimentar a população ou crescer o mercado interno, mas para vender ao exterior e, por isso, que com base no que diz o historiador Sérgio Buarque de Holanda, em Raízes do Brasil, mostra que a história brasileira é uma espécie de ‘rosário de milagres’. 

Uma sucessão de milagres que depende do exterior e não da vontade interna. Os saltos que o Brasil teve nos chamados ciclos econômicos do pau-brasil, do açúcar, do ouro e do café, na verdade foram ciclos de expansão associados à exportação. 

O que Caio Prado Júnior identificou em 1942, como sendo um país que tinha apartada a sua população: de um lado os trabalhadores orgânicos, que eram aqueles que estavam vinculados à atividade capitalista de produzir para o exterior e a maior parte da população dependendo da economia de subsistência não-capitalista, identificada como inorgânicos. 

Pós-guerra e o retorno ao Oriente

Essa situação se altera a partir da primeira grande guerra mundial, no período entre guerras, entre 1914 e 1945, que marca a decadência inglesa e a disputa para a sucessão da Inglaterra entre a Alemanha e os Estados Unidos, por que esses dois países foram os depositários da segunda revolução industrial, com a introdução da energia elétrica, do petróleo, da formação de grandes empresas capitalistas para produzirem em grande escala, automóveis, bens de consumo de variados tipos. 

Nas duas grandes guerras, o Japão e a Alemanha foram derrotados de tal forma que, a partir de 45, o centro dinâmico do capitalismo deslocou-se e consolidou-se nos Estados Unidos. 

Esse período de centro dinâmico no Ocidente passa, ao final do século XX, cada vez mais frágil expressando um deslocamento do centro do Ocidente para o Oriente, ou seja, esse início do século XXI marca o retorno do dinamismo no Oriente e os historiadores terão que rever as suas avaliações.

Um historiador do qual eu gosto muito, que é o Eric Hobsbawn, que infelizmente já não está entre nós, que tem livros e uma contribuição enorme para o conhecimento, mas expressa uma visão europeia, uma visão ocidental do que aconteceu com o desenvolvimento e no seu último livro, ele nem trata da China.

Estamos voltando para algo que já existia anteriormente e que era o moderno, o avançado, na reconstrução da Eurásia e através desse plano fantástico, que os chineses vêm coordenando, que são as novas rotas da seda. 

Decadência

Nesse sentido aparece uma primeira questão: nós, Brasil, América nos constituímos sempre olhando a ideia da modernidade na Europa ou, posteriormente, nos Estados Unidos. Do ponto de vista dinâmico pode ser alterado, mas nos últimos 30 ou 40 anos tem sido uma trajetória de tornar atrasado a Europa e os Estados Unidos, que são cada vez mais decadentes do ponto de vista da sua importância.

É claro, que os EUA continuarão sendo uma grande economia, mas o dinamismo está no Pacífico e não mais no Atlântico, e por isso, é importante considerarmos esse aspecto. 

Tivemos no século XX, experiências de industrialização e o Brasil foi, talvez, a mais exitosa dentro do capitalismo, por que na década de 70 só haviam dois países que haviam conseguido se industrializar em pleno século XX, sendo países de passado colonial: o Brasil e a Coreia do Sul. 

A Coreia do Sul na verdade foi um convite a sua industrialização que se deu a partir da segunda grande guerra mundial, assim como no caso do próprio Japão e da Alemanha que já eram países industrializados, mas em função da guerra, o ódio dos Estados Unidos aos japoneses pela invasão de Pearl Harbor e o ódio dos ingleses aos alemães, por conta da guerra que se pronunciou. No Acordo de Yalta*, realizado em 1944, a decisão dos três grandes vencedores da Rússia, Inglaterra e Estados Unidos foi justamente de tornar tanto a Alemanha quanto o Japão economias agrárias, que teriam destruído a sua burguesia industrial e suas plantas industriais. 

Ocorre que com a ascensão da União Soviética e com a Guerra Fria, os Estados Unidos e a Inglaterra alteram sua posição, abandonam o Acordo de Yalta e assumem o Acordo de Bretton Woods** associado ao Plano Marshall***, que é o plano de injeção de recursos para a Europa, sobretudo na Alemanha, mas também no Japão e alguns países da Ásia, como Singapura e Coreia do Sul, para transformar esses países numa espécie de porto seguro para conter o avanço do comunismo. 

No caso, a Coreia teria sido privilegiada por essa mudança de posição dos Estados Unidos, o que não é o caso brasileiro. O Brasil é um caso de sucesso pela internalização da industrialização da segunda revolução industrial em função de algo que destaco como dois pontos que precisam ser considerados na perspectiva de implantar um novo paradigma para o desenvolvimento brasileiro com base na centralidade da indústria. 

A experiência brasileira de industrialização dentro do capitalismo monopolista, ou seja, o problema de país periférico do Brasil ou qualquer outro é o da tecnologia, que não se tem, apesar de algumas ilhas de avanço tecnológico, mas não se constrói algo mais articulado e totalizante e, de outro lado, o problema do financiamento, de como se financia o desenvolvimento pelas exigências que se impõem a essa perspectiva do desenvolvimento e seu financiamento.

Três pontos importantes para justificar a possibilidade que o Brasil teve de se industrializar e por que a Argentina não se industrializou? Não levou tão avante quanto o Brasil? Por que não o México? Por que não a África do Sul ou a Índia? 

O nosso diferencial é o seguinte: o Brasil conseguiu em determinados momentos muito específicos do ciclo de industrialização entre as décadas de 70 e 80, combinar a associação aos fluxos ou movimentação capitalista fora do Brasil, por que precisava de tecnologia e financiamento. 

Então quando conseguiu articular acesso à tecnologia e financiamento, concebeu um salto importante na sua industrialização, mas não apenas isso. 

Precisou estar combinado à formação de uma maioria que liderasse a ideia do desenvolvimento interno, por que, como vivemos hoje, a industrialização e a defesa da indústria conta com muitos inimigos internos e externos. 

Um inimigo externo da industrialização brasileira são os Estados Unidos. Uma frase importante da equipe do governo dos EUA nos anos 70, que dizia que não admitiriam, em pleno governo militar de Médici e Geisel, um novo Japão nas américas. 

Lembrando que o desenvolvimento do Japão foi permitido diante do conflito da Guerra Fria, já que a ideia original do acordo de Yalta, em 1944, era tornar o Japão um país agrário. 

O (Richard) Nixon, como presidente dos Estados Unidos diz isso: “Nós não aceitaremos um novo Japão no continente americano. E quem seria esse novo Japão? O Brasil. 

Na década de 70, o Brasil já contava com uma planta industrial equivalente a dos Estados Unidos, por conta de sua diversidade de produção e entra no final dessa década com uma indústria que tem capacidade de produzir de toalhas a aviões, de sapatos a computadores. 

Mas a expansão colocava e ainda coloca como sombra ameaçadora para os EUA, que a partir da década de 70, começou a perceber sinais de sua própria decadência. 

Nesse período, os Estados Unidos tiveram três derrotas contundentes: em 1973, quando abandonaram o padrão ouro-dólar, que até então tinha conversibilidade ao ouro e se tornou uma moeda como qualquer outra: um papel pintado. Uma derrota ao sistema monetário dos EUA. 

Outra derrota foi o que aconteceu em 1975, assim como perderam a guerra agora no Afeganistão para o Talibã, perderam muito mais vergonhosamente no Vietnã. 

Mesmo com o poder militar, a supremacia militar com homens forte e tecnologia avançada foram derrotados por um exército que nem uniforme tinha, para gente que andava debaixo da terra. 

E a outra guerra que se deu, foi a busca por energia, derrotada através da revolução iraniana, em 1979, que colocou em xeque o problema do petróleo nos Estados Unidos.

Diante desses sinais de decadência dos EUA, eles vão reagir nos anos 80 e sua reação a partir do presidente do Banco Central e depois com a presença de Ronald Reagan foi a desmontagem das condições pelas quais o Brasil vinha se desenvolvendo. 

A crise da dívida em 1981, enunciou o problema do Brasil em relação ao seu financiamento, os militares abusaram do financiamento externo, cuja as taxas de juros eram negativas e passaram a ser crescentes o que tornou impossível o Brasil pagar a dívida, decretamos moratória e nos aliamos ao FMI, o que foi inviabilizando a industrialização. 

Especialmente, por que os Estados Unidos estavam muito chateados com o Brasil e governo Geisel, que havia utilizado o acesso à tecnologia alemã para produzir energia nuclear. Os americanos ficaram muito nervosos em relação ao que o Brasil conseguiu fazer metermos do acordo de energia nuclear com os alemães. 

A diplomacia brasileira atuou de uma forma impecável e só permitiu que os americanos soubessem no final quando o acordo estava instaurado. 

Para piorar o quadro, o sucesso do Brasil em associar a tecnologia eletroeletrônica que veio do Japão, que procurou contar, com o Geisel, o problema tecnológico da porta fechada dos americanos, associando-se à Alemanha e ao Japão. 

Mas a crise da dívida detona isso, algo parecido aconteceu ao governo do PT. Estávamos em decolagem, reconstituindo o seu sistema produtivo, montando grandes empresas com capacidade de competição nacional, deslocando, inclusive, empresas americanas e fomos abatidos nessa decolagem pelos Estados Unidos. 

Não podemos ficar tergiversando de que foi a Lava Jato, que foi apenas um instrumento dos interesses dos Estados Unidos. 

No início da década de 2010, no começo do governo da presidenta Dilma (Rousseff), os Estados Unidos tiveram uma ação enorme de financiamento de grupos de direita, de formação de grupos de direita no Brasil, isso além de estar documentado é perceptível. A presença de fundos de capital norte-americano financiando o MBL (Movimento Brasil Livre), as redes sociais e a articulação que foi feita em torno da própria Lava Jato.

Sem a presença dos Estados Unidos não teria sido feito nem a metade do que foi feito pela Operação Lava Jato. 

Os Estados Unidos vivem um quadro de desindustrialização, com destaque para o Vale do Silício, que não é qualquer região dos EUA.  

Então, tem uma dificuldade dos Estados Unidos em relação a uma possível retomada do Brasil em torno de um novo paradigma. Por isso, é importante entender essa questão internacional. 

A ascensão da China nos abre uma oportunidade que os governos do PT não tiveram, durante a sua presença. Ensaiamos e fizemos bem a articulação internacional com os países do Sul global e com a criação dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). A questão externa é muito importante. 

Os outros dois momentos que tivemos de expansão, que foi o primeiro nos anos 40, quando se monta no Brasil a indústria de base, com a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Álcalis, Vale do Rio Doce e a Fábrica Nacional de Motores, todas essas grandes empresas estatais só funcionaram por que passaram a ter acesso à tecnologia e o financiamento dos Estados Unidos em parte. 

Isso só ocorreu em função da segunda grande guerra mundial e do acordo que o Getúlio (Vargas) fez com (Franklin) Roosevelt. 

 Getúlio havia tentado várias vezes acesso de tecnologia de siderurgia, que era fundamental, tanto com os alemães quanto com os americanos e nada conseguiu, mas com a segunda guerra mundial e os americanos precisando de um espaço para aterrissar seus aviões antes de chegar à África e o Rio Grande do Norte serviu para isso, ele disse: tudo bem a gente pode fazer isso, inclusive entraremos na guerra apoiando vocês, mas eu preciso de tecnologia e capital para montar a indústria de base. 

Esse foi um acordo político e a importância de um estadista, que tem a visão da importância de um país continental como o nosso, que não se ajoelha no milho, que não se levanta por que o Obama (sic) chegou na sala. 

Outro momento importante foi com Juscelino Kubistchek, na segunda metade dos anos 50, o chamado Plano de Metas, quando o Brasil estava no limite da expansão industrial, com base no ciclo iniciado nos anos 40.

O Brasil tinha a Fábrica Nacional de Motores, que era a única de montagem sobretudo de caminhões e chegou à conclusão que esse setor deveria ser privado e que não tínhamos condição e por outro lado, a energia elétrica estava contida às empresas multinacionais, que oferecem energia para os ricos e os pobres não tinham acesso à energia elétrica. Tinha até uma marchinha de carnaval: ‘Rio de Janeiro cidade que me seduz, de dia falta água e de noite falta luz’, que contava o que era o Brasil. 

Um país que dependia de energia elétrica e de distribuição de água e telefonia de empresas privadas estrangeiras e temos a decisão de estatização desses setores, por que não vai haver um país de dimensão continental integrado, em termos de energia elétrica, telecomunicações e até de água se não for por empresas estatais. 

Reconheceu que precisávamos completar a industrialização do Brasil e, para isso, Juscelino, ao se eleger, fica quase três meses na Europa conversando com os presidentes das grandes empresas europeias para dizer: nós vamos abrir o Brasil e queremos a presença de vocês lá, mas vocês irão para lá, Volkswagen, mas não vão levar a montadora de vocês, tem que ser capital nacional, temos que nacionalizar a produção e fez um acordo nesse sentido. 

Esse acordo foi excelente por que o Brasil deu um salto e se pode dizer que é empresa estrangeira e tal, mas avançamos nesse sentido. 

Esses dois temas são importantes para levantar uma estratégia de defesa da indústria em termos de um novo paradigma de desenvolvimento, ou seja, precisamos olhar o quadro internacional. Com quem nós vamos? Vamos ficar grudados no caixão dos Estados Unidos? 

Em 1930, com a depressão de 29, tem a revolução de 30, os estudiosos dizem que não foi uma revolução, mas só um detalhe sobre o que Getúlio fez, ele assume e faz três ações para avaliação de sua importância se fossem tomadas a partir de 2023: primeiro abandona o padrão libra-ouro ou algo como abandonar as trocas feitas em dólar, vamos fazer agora em criptomoeda, por exemplo, ou na moeda chinesa ou russa ou qualquer outra. Como isso repercutiria no Brasil? Getúlio fez isso em 30. 

Além disso, ele estatizou o comércio externo, que era feito pelo agronegócio da época, do café, da pimenta-do-reino, do açúcar. Imaginem estatizarmos o agronegócio do Brasil: Blairo Maggi, você vai receber em reais por que a caixa de conversão que teremos todo excedente passa pelo Banco Central e você vai receber uma parte por que a outra parte é para financiar o desenvolvimento brasileiro, vocês já não pagam impostos, com a Lei Kandir. Vejam o poder para fazer isso em um Congresso onde mais de 250 deputados são vinculados ao agronegócio e não era diferente nos anos 30. 

E, por fim, o Getúlio faz auditoria da dívida e 10% dos contratos nem aparecem. 

A Argentina na década de 20 era o sexto país mais rico do mundo, porém não descola da Inglaterra ao longo da década de 30, só vai acontecer isso no final e o fato dela não descolar da Inglaterra ela perde o passo e se junta na decadência inglesa. 

O Brasil chegou a ser a 6ª economia mais importante do mundo e hoje é a 12ª, cada vez mais colado nos Estados Unidos. 

Não estou dizendo que não podemos conversar com os americanos ou fazer acordos, não vejo problema, mas a questão externa deve estar contemplada e essa é uma questão estratégica. Como é que vamos fazer? 

O Brasil se tornou e é cada vez mais um país produtor de produtos primários e em grande medida para a China. 

A questão é: os chineses estão impondo a nós como comércio externo a produção do agronegócio? Não podemos ter a agroindústria? A internalização da indústria vinculada ao complexo da produção primária? Os chineses seriam contra isso? Eu acredito que não, eles contemplariam um comércio diferente, mas não são os chineses que vão nos dizer o que temos que fazer. Nós é que temos que dizer. 

Por isso, é fundamental pensar uma estratégia de industrialização que passe dizendo o que tem que ser feito e lutando para que isso possa ser realizado, por que há um embate de forças contra os que não defendem a indústria. 

Então, primeiro é a questão internacional, com quem nós vamos, com que parcerias, com articulação externo, por que isso é importante e o segundo ponto é a formação de uma maioria que defende a industrialização. 

Não me parece que o problema seja o acordo dos trabalhadores com os empresários, é mais do que isso. Hoje, contra a industrialização está o sistema U. 

O sistema do Tribunal de Contas da União, do Ministério Público da União, ou seja, tudo que for necessário fazer para uma política industrial terá o veto do sistema U. 

Foi o sistema U que criou condições ‘técnicas’ para derrubar a presidenta Dilma (Rousseff). As famosas pedaladas fiscais. 

Temos uma burocracia estatal contra a indústria. Quando tivemos a industrialização nos anos 50, 70, tínhamos uma burocracia favorável à está visão, o BNDES, o Ministério da Indústria e Comércio, pessoas qualificadas que defendiam. 

A burocracia é um ponto importante: como vamos nos aproximar dessa malta? 

Outro ponto para considerar, está relacionado ao parlamento. Não é possível termos um presidente que defende a industrialização e um parlamento que seja contra. 

Como vamos trabalhar a questão do desenvolvimento com a industrialização com uma bancada parlamentar que tenha isso presente? O bom que fossem todos de um partido só, mas tem problema que sejam de outros partidos, desde que tenham essa concepção do desenvolvimento e do papel da indústria, é um papel prévio, que tem que ser feito, por que chegar lá com deputados já eleitos já vieram com a sua cabeça feita, então tem um papel importante na questão eleitoral para o legislativo, com os governadores. Não é possível que o estado mais industrializado do País ter desmontado o seu parque industrial sem uma defesa, não teve um governador que defendeu a indústria, inclusive o patronato de São Paulo, a Fiesp, agora é Federação dos Importadores e não da Indústria Nacional. 

Outra questão que é da Comunicação, precisamos ter gente falando sobre indústria o tempo todo, gente que ao contrário da Miriam Leitão, que seja contrário aos analistas econômicos do dito mercado que estão quase 24 horas falando contra a indústria. 

Como vamos levar essa mensagem é muito importante, para irmos formando maioria. Quando não tem indústria no Brasil depende do exterior, como agora em que qualquer mudança na taxa de câmbio aumenta o preço do remédio. Mas o que tem o remédio de um paciente com a indústria? Tudo a ver. 

Como vamos envelopar o projeto e a comunicação é fundamental especialmente nas redes sociais. 

São alguns elementos que contemplam essa perspectiva que está sendo construída de forma muito competente, projeto que não virá de outro lugar se não de vocês.          

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O QUE É: 

*Acordo de Yalta – Documento confirmando o fim da 2ª Guerra Mundial e a paz entre os países envolvidos, durante evento com cerca de 700 conselheiros militares, ocorrido na cidade de Yalta, na Crimeia. Dentre os presentes, destacam-se três importantes figuras: Franklin Roosevelt (dos Estados Unidos), Josef Stalin (da União Soviética) e Winston Churchill (do Reino Unido).

**Acordo de Bretton Woods definiu que cada país seria obrigado a manter a taxa de câmbio de sua moeda “congelada” ao dólar, com margem de manobra de cerca de 1%. A moeda norte-americana, por sua vez, estaria ligada ao valor do ouro em uma base fixa.

***Plano Marshall foi o nome dado a um programa de ajuda oferecido pelos Estados Unidos aos países europeus devastados pela Segunda Guerra Mundial. Ele foi implementado por meio de assistência técnica e financeira com objetivo de ajudar os países da Europa a se reerguer após a segunda guerra.

 

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