Qualificação profissional: Direito à plena formação humana

Dirigentes do Macrossetor da Indústria da CUT e do Instituto Trabalho, Indústria e Desenvolvimento, o TID-Brasil, estiveram reunidos na sexta-feira (25), para discutir a Qualificação Profissional no Brasil e Indústria 4.0. A atividade é a penúltima do Ciclo de Debates para a atualização do Plano Indústria 10+ Desenvolvimento Produtivo e Tecnológico, promovida pelo MSI e TID-Brasil, com o apoio do Solidarity Center, e contou com o professor doutor em Educação da Universidade do Recôncavo da Bahia, Almerico Biondi Lima; com o diretor técnico do Dieese, Fausto Augusto Jr. e com a coordenadora pedagógica da Escola de Turismo e Hotelaria Canto da Ilha (ETCHI-CUT), Aline Salami.

Para o presidente do TID-Brasil, Rafael Marques, o Brasil vive uma desindustrialização acelerada sem uma estrutura econômica para substituir esse fenômeno.
“A desindustrialização tem acontecido em vários países, mas no Brasil está associada ao desemprego e a precarização do trabalho. Não poderíamos estar vivendo um período de desindustrialização tão acelerado, que tem prejudicado os trabalhadores, a renda e a economia como um todo no País”, afirmou.
Nesse contexto, Marques criticou a estrutura da qualificação profissional brasileira, centrada no domínio empresarial do Sistema S.
“Se há um descompasso da qualificação com a economia, com a geração de oportunidades e com visão de emprego do futuro, isso é um fracasso gigantesco dessas organizações criadas nos anos 40”, completou.

Segundo Almerico Biondi, existem processos cíclicos do capitalismo na modernização da produção e estão relacionados com a perda salarial da classe trabalhadora. Ele deu o exemplo de uma série da Netflix chamada 3%, onde esse percentual de pessoas é escolhido para viver no paraíso e os outros 97% vivem em situação precária.
“Mesmo que alguns ganhem mais, há um rebaixamento da massa salarial. Nossas pautas continuarão as mesmas, da emancipação da classe trabalhadora e ainda vamos conviver com situações semi-feudais, análogas à escravidão simultaneamente com a indústria 4.0, já que o capitalismo não hegemoniza as formas produtivas”, explicou.
“Esses 3%, exatamente o que a indústria 4.0 aponta como sua necessidade técnica, viverão no ‘paraíso social’ e o restante sobreviverão das migalhas desse paraíso”, completou.

Para Biondi, a qualificação e formação profissional não podem apenas exigir um determinado perfil e competências para suprir a produção, mas a educação deve ser integral.
“Eu sugiro que o ramo da educação faça parte desse debate sobre formação e qualificação profissional de jovens e adultos para um plano de luta de um Sistema Nacional de Educação”, defendeu.
Além disso, o professor classificou a reforma do ensino médio como a ‘destruição do ensino da classe trabalhadora e a precarização da educação profissional’.

A mesma preocupação com a reforma do ensino médio foi externada pelo diretor do Dieese, Fausto Augusto Jr., que apresentou o cenário educacional brasileiro pela PNAD Educação de 2019.
“A reforma do ensino médio é estrutural do ponto de vista educacional e já está em disputa pelo Sistema S e por fundações como Lehmann e Itaú. Temos que resolver um problema muito sério: no Brasil, só 17,5 % da população de 25 anos ou mais tem ensino superior completo, quase 50 milhões tem requisito para cursar ensino técnico de nível médio, mas apenas 5% frequentavam algum curso, ou seja, a maior parte dos jovens não fazem educação profissional”, alertou.

Fausto destacou que há semelhanças entre a implementação da indústria 4.0 e a reestruturação produtiva dos anos 90, mas as habilidades e saberes que se adquiria no posto de trabalho são superiores aos de hoje.
“Historicamente, o trabalhador aprende a trabalhar trabalhando. Vamos comparar o torno mecânico e uma central de usinagem, a quantidade de conhecimento acumulado que o trabalhador detinha, onde ele controlava os processos e os conhecimentos e, não é verdade que o trabalhador que controla uma central de usinagens tem mais conhecimento, os projetos vêm do exterior, são implementados e o trabalhador apenas verifica conforme o projeto. Esse trabalhador não tem mais ferramentas como se tinha há 50 anos”, lembrou.

Para a coordenadora pedagógica da ETCHI-CUT, Aline Salami, a educação profissional é estratégica e o que tem sido adotado pelo Sistema S é um modelo de competências, que busca de forma hegemônica adaptar o trabalhador a precarização e reforçar o discurso da empregabilidade e da meritocracia.
“Em momentos de crise a culpa é do trabalhador pela sua condição, esse modelo reforça essa lógica, principalmente, a individualização das demandas em detrimento da perspectiva coletiva de organização e reinvindicação e o estímulo a competição intra-classe”, definiu.
Salami destacou a importância de reafirmar os princípios da CUT, definidos em congresso ainda na década de 90, que a educação profissional como estratégia já determinava a educação integral, com a elevação da escolaridade, a formação política e sindical e a formação profissional.
“A educação profissional tem que ser um direito a plena formação humana”, concluiu.

Homenagem
Os dirigentes do MSI-CUT e do TID-Brasil prestaram homenagem ao companheiro Valdenilson Alves de Lira, falecido no último dia 23, aos 73 anos, ex-representante sindical dos trabalhadores na Scania.

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