Democracia na UTI

Por Rafael Marques

Quando jovens morrem em eventos culturais na periferia por desvios de conduta de policiais. Quando índios isolados no Maranhão são ameaçados de extinção por madeireiros e caçadores violentos.

Quando o ministro da Fazenda ressuscita o AI-5, que exterminou o que restava de democracia durante a ditadura militar, para se contrapor à fala em defesa dos direitos sociais e do trabalho feita pelo ex-presidente Lula.

Há uma institucionalização das ameaças a grupos, de negros, índios, trabalhadores. A democracia e o convívio social estão se desfazendo.

Se um motoqueiro passar por uma blitz policial já sabe que será parado, é a presunção da culpa. Assim como a desproporcional reação de um segurança de um hipermercado que sufoca um cliente até a morte.

Se um pesquisador divulga o aumento das queimadas na Amazônia e contraria o governo federal, é perseguido, demitido, exonerado.

Se fiscais do trabalho encontram pessoas em situações análogas à escravidão, correm o risco de ser assassinados.

Se um cientista aponta a contaminação por agrotóxicos na água também é perseguido.

O Estado tem se negado a fazer o contraponto aos interesses econômicos e privados e, o que é pior, tem aderido a esses interesses em detrimento do bem-estar social.

Estamos convivendo com uma sociedade cada vez mais violenta e intolerante, alimentada com fatos distorcidos, mutilados e com a restrição sistemática da verdade e do conhecimento.

Tudo isso, tem levado os cidadãos e cidadãs a não ter paciência no trânsito, em casa com os filhos, no trabalho, no estádio de futebol, nas religiões.

A verdade como uma mercadoria de interesses, como consumo e não como direito, depõe contra a construção de uma sociedade justa, civilizada e de respeito mútuo.

A educação é o antídoto para combater essa violência, que tem se agravado. Sem isso, estaremos matando o País.

Rafael Marques é presidente do Instituto Trabalho, Indústria e Desenvolvimento, o TID-Brasil e ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC

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