A direita como ela é

Por Rafael Marques

A referência desastrosa sobre o líder seringueiro e sindicalista Chico Mendes feita pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, no programa Roda Viva na última segunda, 11, causou indignação dentro e fora do Brasil.

O próprio apresentador do programa, Ricardo Lessa, questionou o ministro pela afirmação de que o sindicalista teria se beneficiado da luta pelo meio ambiente: “se beneficiar em quê? Ele morreu pobre!”. Além disso, jornais estrangeiros e redes sociais ‘evitaram’, de maneira contundente, a tentativa de um segundo assassinato de Chico Mendes, desta vez, de seu legado, de sua memória.

A direita – representada pelo ministro, fundador do Movimento Endireita Brasil – nunca vai reconhecer a obra coletiva da classe trabalhadora, na luta por terra, por moradia, por salário digno. Essa direita, que foi liberal, democrata, progressista e, agora se autodenomina Novo, nunca vai dar nenhum sinal de civilidade a um setor que faz da defesa dos direitos e da distribuição da renda de maneira justa a razão de sua existência.

Essa direita expressa um pensamento que está comandando o Brasil e, infelizmente, o mundo por conta de vários fatores, entre eles, a enganação por meio das mídias sociais, a confusão e as mentiras disseminadas, injetadas na veia da população em diversos países. Com o objetivo de implementar uma agenda cruel, que aumenta a desigualdade e esgarça as relações humanas, em um discurso cínico de compaixão aos exploradores ricos e punição aos pobres.

Essa direita que está no mundo inteiro se levantando e precisamos lutar contra ela. Temos que continuar a luta e não abaixarmos a cabeça.

Temos que defender a memória e a trajetória de pessoas como Chico Mendes e o ex-presidente Lula, que eles se empenham para tentar destruir.

Chico Mendes foi um defensor da exploração econômica da floresta sem derrubá-la. É o precursor do conceito de desenvolvimento sustentável, em uma década (80) em que eram raras as pessoas que empunhavam a bandeira da preservação do meio ambiente.

A importância da sua luta é reconhecida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, órgão do próprio Ministério do Meio Ambiente, responsável pela gestão das áreas protegidas no País.

A atuação de Chico Mendes incomodou os interesses do setor pecuarista mais atrasado do Brasil, responsável pelo seu assassinato em 1988, em Xapuri no Acre. O pecuarista Darly Alves e o filho Darci foram condenados a 19 anos de prisão pelo crime, dos quais cumpriram seis.

Um pouco por inocência ou por inexperiência ou até por que queriam algo novo, muita gente acabou sendo enganada com o discurso fácil do salvador da pátria.

Não podemos culpar a população, mas pessoas que têm muito poder são responsáveis por terem escolhido e apoiado esse grupo para dirigir o Brasil.

O ministro foi cruel, indecente e desrespeitoso ao falar de uma pessoa como o Chico Mendes. Essa é a verdadeira face da direita.

 

Rafael Marques é presidente do Instituto Trabalho, Indústria e Desenvolvimento, o TID-Brasil e ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC

Compartilhe:

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *