“Não podemos fazer mais do mesmo”, diz Couri
Os dirigentes do Macrossetor da Indústria da CUT e do Instituto Trabalho, Indústria e Desenvolvimento, o TID-Brasil, estiveram reunidos, por meio de videoconferência, na sexta-feira (10), para debater o “Desafios e Perspectivas das Micro e Pequenas Empresas no Brasil”.
A atividade faz parte do Ciclo de Debates promovidos pelo MSI e TID-Brasil, com o apoio do Solidarity Center, para a atualização do Plano Indústria 10+ e contou com a participação do representante do Sebrae, Paulo Cereda e do presidente do Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo, o SIMPI, Joseph Couri.
Cereda explicou que 98% das empresas brasileiras são consideradas de micro e pequeno porte, com faturamento anual de até R$ 360 mil (micro) e R$ 4,8 milhões (pequena) e destacou que a principal dificuldade enfrentada pelo segmento e que causa ansiedade é a volatilidade econômica e política.
“O clima é um grande desafio talvez o maior, pela complexidade. Outra é a fome. Dados da FAO (Food and Agriculture Organization ou Organização para Alimentação e Agricultura – em português) apontam que temos bilhões de pessoas dormindo com fome”, ponderou.
O economista do Sebrae também apontou o complicado sistema tributário, que dificulta a vida das micro e pequenas empresas nos mercados.
“O NCM do produto, que é a Nomenclatura Comum do Mercosul tem 600 páginas de legislação e não dá para ser competitivo nesse País sem uma reforma tributária que torne clara a regra”, defendeu Cereda.
Apesar disso, ele afirma que o empresário brasileiro é otimista em relação ao futuro e que “acredita em si, apesar de não acreditar na economia brasileira”, concluiu.
Na avaliação do presidente do SIMPI, Joseph Couri, o cenário para os empresários das micro e pequenas indústrias é bem pior segundo levantamento do Datafolha.
“O otimismo das empresas, que era de 54% tem previsão de fechar o ano em torno de 38%, com horizontes piores, o que mostra um pessimismo nas micro e pequenas indústrias. Na pesquisa Datafolha, 84% têm problemas de elevação de custos, metade com problemas de desabastecimento e o programa (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte – Pronampe), que era a salvação, chegou a menos de 7% das micro e pequenas empresas”, criticou.
Segundo Couri, o estudo mostra que 43% não têm capital de giro para o mês, 46% têm exatamente o que irá precisar e pouco mais de 10% apenas têm capital para algum tipo de investimento, além disso 17% estão usando cheque especial, com taxas de juros impagáveis.
“Parafraseando Einstein: insanidade é fazer a mesma coisa várias vezes e esperar resultados diferentes. O que estamos fazendo de novo? Qual é o país que não defende o seu mercado interno?”, questionou.
Para o presidente do SIMPI, a reforma tributária, que tramita no Congresso Nacional, não resolve problemas dos micro e pequenos empresários, que concorrem com produtos roubados e contrabandeados e vendas por marketing digital sem fiscalização adequada.
“Precisamos mudar isso e ter um sistema tributário para acabar com esse tipo de prática, mudar o mercado interno, com parcerias e novas Convenções Coletivas de Trabalho. Não é um discurso e uma prática diferente”, completou.
Couri defendeu ‘caminhos de ruptura’, como o que ocorreu na descentralização da junta comercial para a abertura de empresas: ‘que governo lutou e aprovou o MEI? Foi o governo do presidente Lula’, relembrou.
“Eu não acho moral e ético conviver com as pessoas passando fome. Alguém ouviu falar sobre o replantio da floresta Amazônica? Apesar de toda essa dificuldade colocada e o momento difícil, o Brasil tem jeito sim, tem solução sim, mas não fazendo mais do mesmo”, sentenciou Couri.