Avança ABC: Região perdeu R$ 30 bilhões no PIB

Fotos: Adonis Guerra

Estudo apresentado pelo professor e coordenador do Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura da Universidade Municipal de São Caetano do Sul, a USCS, Jefferson José da Conceição, durante o evento Avança ABC, que tratou do Diagnóstico Regional, aponta a queda na participação da indústria no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, desde a década de 90, passando de 27,3% para 11,3%, o percentual mais baixo da história. 

“Houve um forte crescimento econômico entre 2005 e 2013, mas acompanhado de mudanças estruturais, como a perda de integração da indústria brasileira nas cadeias de valor e a financeirização da economia e após esse período de 2014 a 2019, temos recessão prolongada, fragilidade da indústria e do mundo do trabalho, com a reforma trabalhista; das instâncias regionais, expansão de novos segmentos e empresas ligadas à economia digital, além do desafio gigantesco imposto pelo projeto de indústria 4.0”, explicou. 

Segundo o estudo, a participação do ABC no PIB estadual que era de 7,3%, em 2011, ou R$ 164,5 bilhões caiu para 5,5%, em 2019, com R$ 130 bilhões, uma queda de 20,5%, além disso dos 6.384 estabelecimentos industriais na região, em 2011, seis anos depois haviam pouco mais de 6 mil, com destaque para o encerramento de empresas com mais de 50 trabalhadores. 

“Não temos ainda dados do pós-pandemia, que pode ser menos de 11%, perdemos algo em torno de R$ 30 bilhões no PIB”, completou.

Para a pró-reitora de Pós-Graduação e Pesquisa da USCS, Maria do Carmo Romeiro, entre os desafios, é preciso enfrentar um ‘nó crítico’ da crise econômica estrutural que é aproximar empresas, universidades e gestão pública. 

“É preciso que o Grande ABC promova uma série de iniciativas para ‘quebrar’ estes circuitos verticalizados e fechados de inovação e desenvolvimento tecnológico, por ser este tema estratégico para a revitalização da economia regional”, afirmou. 

Romeiro elencou oito medidas para essa revitalização, como apoiar os espaços de inovação e os conectar com empresas; atualizar o inventário de ofertas e demandas tecnológicas da Agência; estimular o (re) surgimento e fortalecimento de Arranjos Produtivos Locais, os APLs; divulgar e envolver pesquisadores, universidades e empresas a conhecerem e se cadastrarem no ‘Portal do Pesquisador’; facilitar soluções promovidas pelas startups para soluções das gestões públicas; realizar Feira de Inovação Regional, construir canais de comunicação e incentivar a formalização do Conselho de Reitores. 

O professor de Economia da Universidade Metodista de São Paulo, a Umesp, Sandro Maskio, atribuiu a recessão econômica a uma política nacional e não pelo esforço local. Ele observou que maior intensidade tecnológica gera riquezas e não empregos e há perda da complexidade produtiva na região. 

“No contexto macro é a pior década registrada da economia brasileira e regional. O desempenho setorial do PIB entre 2009 e 2019, na indústria foi 2,54%, enquanto no Grande ABC foi de -41,2%; em serviços foi 14,9% no País e na região foi 7,4%; na agropecuária teve um aumento de 38,5% nacionalmente e de 6,4% local. Com isso, o percentual do PIB per capita foi positivo em 5,6% no Brasil e -21,1% no ABC”, analisou. 

A professora e economista da Universidade Federal do ABC, UFABC, Cristina Fróes de Borja Reis, analisou os impactos da Covid-19 na economia, como as reconversões na produção para lidar com a pandemia, desabastecimento de baterias e semicondutores e insumos farmacêuticos e apontou o mapeamento das Cadeias Gerais de Valor, as CGVs, como ponto de partida. 

“Entre os impactos imediatos estão a dispersão da produção e da cadeia de abastecimento; recessão global e choques de demanda e oferta. No longo-prazo é imperativo aumentar a resiliência das cadeias de abastecimento e a pressão para elevar autonomia nacional e regional da capacidade produtiva”, disse. 

Segundo a economista, há dois fatores prioritários para entender o futuro das CGVs: do lado das multinacionais e dos governos. 

“Pelas multis há uma busca por CGVs resilientes, capazes de operar num contexto Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo, Vica. Já os governos dos países desenvolvidos, principalmente, criam estímulos e destinam recursos locais para que essas empresas reduzam a sua pegada internacional, especialmente em áreas consideradas socialmente prioritárias para a soberania nacional assim como a geração de emprego e renda local”, explicou Reis. 

Ela posicionou o Brasil no contexto das CGVs como ‘historicamente fora do eixo dinâmico, fornecedor de alimentos e matérias-primas, consumidor de atividades, tarefas, componentes de maior intensidade tecnológica, conhecimento e calor adicionado; com dependência tecnológica e decadência nas relações externas, e rupturas, inflação, desabastecimento, fome e insegurança alimentar. 

A professora defendeu um Plano de Trabalho capaz de fortalecer as cadeias de empresas do ABC Paulista e que contribua para o desenvolvimento inclusivo e sustentável, em quatro etapas: Teórica, Empírica, Análise e Teste de Hipótese e Conclusões.  

“A realidade é esmagadora, mas temos como reagir, para isso precisamos de financiamento para os estudantes”, concluiu.

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